Como todos os cidadãos politicamente “corretos”, creio estar informado acerca das características que tem adquirido as manifestações populares no mundo nestes últimos tempos. Sei que são pacíficas, fugazes, menores em número e motivadas por reivindicações heterogêneas que tornam o conjunto do ato político um poço unificado, descontínuo, puramente gestual e sem maiores conseqüências efetivas. Como quer que seja, está nascendo no planeta nestas últimas décadas, sobretudo nos países democráticos liberais ou social-democratas, um cuidado especial dos governos em tratar de desarticular ou desprestigiar os movimentos, apelando à mínima violência possível. É claro que isso não tem muita vigência na Síria ou no Afeganistão, mas tanto é verdade nos países ocidentais que dá para constatar repetidamente -que entre os machucados leves de cada manifestação- amiúde os contingentes repressivos lesionados são tão numerosos como os manifestantes. Os otimistas vêem nesse e em outros aspectos similares, uma expressão de que os governos, preocupados pelos efeitos multiplicadores das redes comunicacionais contemporâneas, cuidam-se de não mostrar perfis autoritários (por dizer o menos). O emprego de uma força “excessiva” para impedir uma manifestação que não emprega recursos demasiado violentos pode ter conseqüências econômicas, políticas, culturais, jurídicas etc. nas partes do mundo que menos se espera. Uma delas é a produzir uma associação, aliança ou apoio de movimentos cuja afinidade era insuspeitável, ainda para os mesmos segmentos, que protagonizam uma nova aliança.
É claro que a questão da avaliação acerca do que é mais conveniente para o Poder, se aparecer como “tolerante” e acabar fazendo aquilo que se propunha...dando lugar e novos protestos, de intensidade e número crescente...ou conceder a reivindicação demandada, barganhando-a por outra mais essencial para o “sistema”... ou reprimir duramente (pagando certo preço de prestigio) para desalentar os ímpetos da nova onda.
Em qualquer situação é importante para a militância dos movimentos, lembrar que o Poder pode chegar a entregar até os anéis para salvar os dedos, mas que amiúde os anéis são falsos, ou essa entrega ,segundo como seja feita e divulgada, pode transformar os “justos em pecadores”.
Gregorio Baremblitt
segunda-feira, 24 de outubro de 2011
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