domingo, 14 de setembro de 2008

O QUINTAL DAS “BARATAS”

Por Gregorio Baremblitt

Acompanhando avidamente a vida e as notícias sobre a vida durante muitas décadas, estou um pouco farto de ouvir dizer que a América Latina é “ignorada” pelos EUA. Como exemplo ilustrativo se acostuma citar os erros cometidos por diversos presidentes norte-americanos, que confundiram a capital de um país de Centro ou Sul América com a de um outro.
Essa afirmação é completamente improcedente. Desde a sua fundação geopolítica (na qual lhe arrebataram pela força grandes extensões territoriais do México) passando por todo o século XX, durante o qual mantiveram relações econômico-financeiras (direta ou indiretamente) leoninas com os países ibero-americanos, os EUA se “interessaram”, sim, pelo seu “quintal”.
Política e belicamente apoiaram todas as ditaduras, as falsas democracias de direita da região e invadiram militarmente nações soberanas como Panamá, Granada etc. Isso aconteceu, especialmente, durante a guerra fria (e o exemplo máximo é o bloqueio econômico a Cuba e o apoio incondicional à tentativa de invasão da Baía de Cochinos), mas também antes e depois dela.
O esboço de uma “liga bolivariana” (muito incipiente ainda), formada por um espectro de alianças muito parciais, laxas e às vezes contraditórias, não deixa de ter certo peso político-econômico e um interessante valor emblemático.
Em primeiro plano Cuba, Venezuela, Bolívia, Panamá e Nicarágua, em segundo Argentina, Uruguai e Brasil, assim como provavelmente Paraguai e gradualmente alguns países africanos, tanto como alguns do Oriente Médio. Estão insinuando a concreção de um bloco, de frágil presente e de duvidoso futuro, mas que no marco de certos indícios (digamos) “esfriamento” da América do Norte, a Comunidade Européia e Japão, assim como do aquecimento da China, Índia, e o Sudeste Asiático, não deixam de ter um “formato” interessante. Ao que parece, como mínimo, haveria que atribuir sua população a outra espécie que não seja apenas a das “cucarachas”.
Só como uma curiosidade (especialmente para brasileiros, que a miúdo parecem ter seu continente aparte), é bom lembrar que os dois grandes Libertadores da América, Bolívar e San Martín, não discordavam com respeito a uma possível formação dos Estados Unidos da América Latina. Diz a historia apócrifa (se é que existe uma outra), que o grande venezuelano queria presidir a União e o prócer argentino não gostava dessa idéia.

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